Muito se fala sobre corrigir a postura. E não é raro que esse seja o pedido número um ao se procurar um profissional de movimento. A busca por uma “postura ideal” tornou-se quase um dogma, reforçado por padrões estéticos, normas sociais e uma compreensão mecanicista do corpo humano. Mas talvez seja hora de enfrentar um ponto que pode soar polêmico, porém necessário: postura, como conceito estático, não existe.
O corpo não é uma escultura que deve manter linhas rígidas de alinhamento. É um sistema dinâmico, vivo, adaptativo.
E o que chamamos de “postura” é, na verdade, uma estratégia coordenativa momentânea, uma expressão do corpo diante das restrições internas e externas a que está submetido. Seu corpo não está errado por estar desalinhado. Seu corpo está apenas respondendo ao contexto da forma mais eficiente possível.
Movimento como estratégia de comportamento
Toda posição que o corpo assume, seja em pé, sentado ou em transição, é uma solução temporária para um problema: manter estabilidade e funcionalidade em um campo gravitacional. Não é um estado ideal, é uma estratégia. E, como toda estratégia, depende do objetivo, das limitações do sistema e da interação com o ambiente.
Essa compreensão exige que deixemos de lado a ideia de correção e passemos a observar o comportamento motor a partir da lógica da variabilidade e da adaptabilidade.
Qualquer tentativa de forçar o corpo para se encaixar em uma “postura ideal” invariavelmente adiciona compressão sobre compressão restringindo, ao invés de liberar, o potencial de movimento.
Dor é um sinal de estagnação energética não um problema postural
A dor, muitas vezes, é o resultado de uma falha na transmissão de energia pelo sistema. Quando o corpo perde sua capacidade de distribuir forças de forma eficiente, o acúmulo de carga em uma mesma região se torna inevitável. Assim, aquela dor no joelho, no quadril ou na região cervical não é, em si, o problema. É apenas a manifestação de um sistema sem mais opções.
O corpo é um sistema de alavancas e pressões que tenta, a cada momento, manter-se funcional diante das restrições impostas pela gravidade, pela arquitetura interna, pelos hábitos, e pelo ambiente.
Quando falamos em restaurar o movimento, não é para alcançar um padrão ideal. É para recuperar a liberdade de escolha do corpo.
O erro da padronização postural
Ao longo da história, muitas tentativas foram feitas de definir o que é uma “boa postura”. Linhas de prumo, ângulos de referência e medidas normativas foram propostas como marcos ideais.
Mas quando colocamos indivíduos reais frente a essas métricas, ignoramos um princípio fundamental: o corpo humano é único e singular.
A cabeça que “projeta para frente” pode estar apenas acompanhando um deslocamento torácico. A rotação do quadril que “foge do ideal” pode ser, na verdade, o único vetor de alívio disponível para aquele corpo.
Tratar essas expressões como disfunções e tentar corrigi-las isoladamente é perpetuar um raciocínio reducionista.
Reorganização funcional
Ao invés de voltar ao “ponto ideal”, o que proponho é uma abordagem de engenharia reversa. Partimos do ponto atual (como seu corpo está) com suas restrições, compensações e estratégias adaptadas e investigamos o caminho que trouxe o corpo até ali. É isso que eu faço no meu trabalho como treinadora.
Isso exige não apenas uma leitura precisa do comportamento atual, mas também uma reconstrução gradual da capacidade adaptativa do corpo do meu aluno.

Quando o espaço de movimento se esgota, a solução não está em retroceder. Está em reorganizar o sistema em uma nova base de suporte, criando um ambiente onde o corpo possa, novamente, se auto-regular. Isso pode envolver respiração, redistribuição de pressão interna, manipulações tônicas e estratégias que favoreçam a ascensão do ar literalmente restaurando o tônus de dentro para fora.
Medidas, variabilidade e intenção
Métricas de amplitude articular são úteis, mas só quando interpretados com critério. Cada estrutura tem seu limite funcional e sua tendência natural. A rotação externa do quadril, por exemplo, não precisa seguir um valor ideal de 60°.
Precisa ser suficiente para sustentar o comportamento motor que a pessoa deseja expressar. O movimento é funcional quando é eficaz, repetível e adaptável.
A perseguição cega por números desvinculados do contexto real é uma armadilha comum. Diagnósticos como “síndrome de impacto” ou “pelve anteriorizada” são frequentemente interpretados como se todos os corpos fossem iguais. E, claro, são tratados com a mesma fórmula.
Isso não é ciência do movimento. Isso é protocolo sem pensamento.
Colapso por compressão
Quando a pessoa não consegue mais se reorganizar, ela começa a restringir. É quando vemos a utilização de estratégias que já não são funcionais, retrações torácicas, tensões cervicais, rigidez nos membros inferiores e superiores. A dor crônica nasce desse colapso por compressão, onde o corpo tenta se manter firme, mas perde sua adaptabilidade.
Meu papel como treinadora não é forçar uma postura nos meus alunos, mas restaurar o controle do centro de gravidade. Um espaço onde o corpo volte a responder ao ambiente com variação e não com defesa.
E para fechar: É hora de abandonar o ideal postural. Ele nunca existiu. E quanto antes aceitarmos isso, mais rapidamente podemos oferecer soluções eficientes.
O que precisamos não é de correção é de contexto, interpretação estratégica e construção de novas possibilidades.
Esqueça ideias e metodologias que são baseadas na aparência, não na função. Assim como a “boa postura”.
✔️ A função vem primeiro.
✔️ A estética é uma consequência.
✔️ E o que nos guia deve ser a intenção.
✔️ Essa é a nova postura.
E se você quiser resgatar a função do seu corpo, aqui abaixo está o formulário de inscrição para a minha consultoria online ou personal training.
Link: Formulário
Até mais,
Biah
Um dia perguntei para uma fisioterapeuta: "posso sentar assim?". Ela disse "pode, você pode sentar do jeito que você quiser e se sentir bem, desde que mude de posição com frequência". Exatamente... O pior para o corpo não é a "postura ruim", é a falta de movimento. Anos depois tive uma crise de dor lombar e fui ao médico, perguntei se, naquele momento, o problema teria sido os movimentos que eu estava fazendo (na academia). Ele disse que poderia ter alguma influência, mas, que a crise poderia ter acontecido de qualquer maneira e seria pior se eu estivesse sedentária. Depois disso, meu objetivo se tornou encontrar o alinhamento dos meus movimentos, entender os encaixes e compreender meu corpo com todas as suas particularidades.